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Burnout: quando o corpo pede socorro

  • Writer: Tânia Carlos
    Tânia Carlos
  • Jun 17, 2024
  • 2 min read

Updated: Jun 19, 2024



O burnout - ou síndrome do esgotamento profissional - foi reconhecido em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ocupacional. Ele é caracterizado  por exaustão, perda de interesse em atividades corriqueiras, desinvestimento nas relações afetivas, queda da produtividade laboral e da sensação de realização profissional. Os sintomas podem se parecer com os da depressão e do estresse pós-traumático. No Brasil, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% das pessoas que possuem trabalho fixo têm burnout. Somos o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo. 


Aqui, vou fazer meu recorte pessoal. Eu era uma adolescente quando li uma reportagem da Revista Piauí, lá pelos idos de 2005, sobre o trabalho de operador de telemarketing, que explodia naquela época. O jovem de classe média baixa, principal grupo que ocupava o cargo, passava por diversas violações de Direitos Humanos durante o expediente. A reportagem revelava que alguns usavam fralda enquanto faziam e atendiam ligações, para que não gastassem tempo indo ao banheiro. 


Quando me mudei para São Paulo e conciliei um estágio, - na época de 44 horas semanais -, com uma faculdade e uma iniciação científica, experimentei a privação de sono, horas diárias em transporte público e assédio moral de um colega. Adoeci física e psiquicamente e, fui compreender, com a ajuda da minha primeira psicanalista, que aquilo era uma “estafa profissional”, hoje chamada de burnout. Poder nomear aquele esgotamento e a sensação de tristeza diante de uma vida automatizada foi muito importante. Eu sabia que, na condição de funcionária, não poderia mudar a cultura de trabalho da empresa ou transformar meu colega competitivo em um cara bonzinho: fazer análise ou terapia não vai nos salvar do que é estrutural na sociedade, mas pode ajudar a organizar esse mal-estar e cuidar do que pode ser tratado. Esse é o papel do psicanalista. 

André Dahmer - Malvados


É importante compreender que em cada pessoa o burnout vai revelar especificidades e localizar a posição da pessoa que sofre: compreender se ela tem alguma outra condição de saúde que a impede de realizar o volume de trabalho exigido, se é perfeccionista e não consegue abrir mão das próprias exigências,  tem medo dos chefes, compete com os colegas, se tem muita ou pouca ambição, se tem dupla jornada de trabalho ou também estuda, se passa por um luto ou divórcio, se é autônomo e não possui direitos trabalhistas, e, enfim, quais ferramentas esse sujeito tem ou pode desenvolver para diminuir esse sofrimento.


É fundamental, também, considerar que existe um certo orgulho contemporâneo em dizer que ‘só trabalha e não tem tempo pra nada’, de se gabar porque ficou até as 23 horas no escritório, de que faz plantão e depois vai pra academia, de que nunca reclamou de ter trabalho, e claro: trabalhe enquanto eles dormem. Esse discurso, quando existente, precisa ser captado pela escuta clínica para que o tratamento se desenhe. 


Para quem quer ler mais sobre o assunto, recomendo os livros Sociedade do Desempenho e Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. Para profissionais de saúde mental, o livro A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho, de Christophe Dejours, é uma leitura fundamental.


Se você suspeita que pode estar passando por um burnout, procure um profissional da saúde mental. 


 
 
 

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